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Hipocrisia e mortes na Somália


A Inglaterra acaba de dar mais um exemplo daquilo que é a hipocrisia assassina que, na Somália, tem ceifado a vida a muitos milhares de pessoas, ao emitir uma nota de reconhecimento pelo esforço que o governo somali tem estado a fazer para combater as milícias islâmicas, não dedicando sequer uma linha à catástrofe humanitária registada no país e que resulta da morte por fome de uma parte muito significativa da população.
Numa conferência de doadores realizada em Londres e na qual participaram delegações de mais de 50 países e ainda das Nações Unidas, União Africana e Fundo Monetário Internacional (FMI), o Presidente Hassan Sheik Mohamud apelou uma vez mais à ajuda, ao investimento e à protecção.
Este seu apelo, como os muitos outros que anteriormente fez em situações semelhantes, teve um impacto muito reduzido na grande imprensa internacional que optou por notícias sobre a posição do país anfitrião do encontro de aplaudir os esforços feitos pelo governo da Somália para travar os avanços das milícias islâmicas e para tentar instalar a ordem em toda a extensão territorial do extenso país.
Sobre a catástrofe humanitária que se acentua à medida que aumenta a indiferença internacional, nem uma única palavra, como se nada se estivesse a passar e as vidas de milhares de pessoas fosse uma mera retórica. Mas a verdade é que de retórica isso nada tem.
Segundo dados divulgados por diferentes organizações internacionais, entre 2010 e 2012 morreram na Somália 260 mil pessoas, metade das quais crianças com menos de cinco anos de idade. A União Africana e as Nações Unidas, verdade se diga, não tem poupado esforços no sentido de tentar denunciar a situação, mas as suas palavras perdem-se nos labirintos onde se movimenta a diplomacia internacional que, de há muito, traçou as suas prioridades. E essas prioridades passam, claramente, pelo esforço de combate às milícias islâmicas que pululam naquela região do continente africano de modo a que a sua influência não se estenda para os países vizinhos.
Ao fazerem da Somália uma linha da frente contra o terrorismo islâmico, as grandes potências internacionais deveriam ter também em atenção a necessidade de reforçar o seu apoio ao governo no sentido de travar a catástrofe humanitária que se acentua a cada dia que passa.
E, não o fazendo, estão a entregar de “mão beijada” a essas milícias o importante apoio local que encontram junto das populações que, despojadas de tudo, ficam mais vulneráveis às influencias religiosas que sobre si são exercidas, passando dessa forma a ser uma fácil fonte de recrutamento. O governo de Hassan Mohamud faz o que pode para se segurar no poder, mas depende, para tudo, do apoio que as potências internacionais lhe quiserem dispensar, competindo-lhe tentar executar as pressões vindas do exterior e que, muito raramente, são destinadas a resolver os verdadeiros problemas do povo.
Esses problemas, como é bom de ver, passam pela criação de condições que permitam à população ter a esperança de, no mínimo, conseguir sobreviver à fome e às epidemias, só depois se preocupando com a questão religiosa.As reuniões de doadores que periodicamente se realizam com o pretexto de se conseguir ajuda para a Somália raramente cumprem com os objectivos traçados. Umas das vezes são os países participantes que não honram os compromissos assumidos em termos de disponibilização de verbas e outras são os posteriores descaminhos que são dados aos fundos apurados e que são geridos por diferentes organizações internacionais.Toda a gente sabe que assim é, mas o que é grave é que ninguém faz nada para alterar o que quer que seja. Segundo as estatísticas, durante o período de tempo em que decorreu mais esta reunião de doadores, num dos melhores hotéis de Londres, terão morrido na Somália mais de uma centena de crianças com menos de cinco anos de idade.
A comunidade internacional tem de encontrar uma solução para este grave problema. Trata-se de uma questão humanitária, mas também de opção politica, pois será essa a única forma de se evitar a progressão do radicalismo islâmico na região.
Condenar à fome e à morte centenas de milhares de pessoas pelo simples facto de terem tido a desgraça de terem nascido numa região desprovida de tudo é o que melhor serve os desígnios daqueles que apostam no desespero humano para imporem os seus ideiais bélicos e atentatórios da liberdade. Não pode a hipocrisia política sobrepor-se aos mais elementares valores que dignificam a vida humana, sob pena de se estar a assistir a uma completa e criminosa táctica de extermínio.
Por Roger Godwin
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